
Manuel Valério: In Memoriam – Discurso Direto
Por: Margarida Rodrigues
A 10 de novembro faz um ano que Manuel Valério nos deixou, com apenas 59 anos.
Penso que como a generalidade das pessoas, também eu associo, em jeito de coleção, datas, efemérides (nem sempre positivas e felizes) e, claro, pessoas. Para mim, o mês de novembro destaca-se por assinalar o Dia Nacional da Cultura Científica e este está agora associado à perda da presença física de Manuel Valério, um homem/empresário que sempre admirei por o considerar visionário, culto, altruísta, sonhador e fazedor de sonhos.
Manuel Valério, o empresário da lousa e da pedreira de Canelas, que deu continuidade ao negócio da família, ultrapassou em muito a escala da banalidade e da mera existência. Como as trilobites e outros animais marinhos, deixou grandes rastos da sua vida e da sua atividade, rastos esses que perdurarão por muito tempo, estou certa.
O Museu das trilobites, ou Centro de Interpretação Geológica de Canelas, é o seu maior legado e o seu projeto dedicado à ciência, a Canelas, a Arouca e ao mundo. Além de expor uma coleção única no mundo, pela quantidade de fósseis que exibe e pela excelência e raridade das espécies, apelidadas de “gigantes”, as maiores até agora conhecidas, é o museu de destaque de Arouca. É o museu pioneiro, o mais antigo e relevante, a primeira prova da excelência e da relevância do património geológico de Arouca, o primeiro a captar a atenção, estudo e investigação de cientistas e geólogos.
Foi, sem dúvida alguma, Manuel Valério que, através da sua ação sensível, comprometida e altruísta, possibilitou que a candidatura do Arouca Geopark à Rede Global de Geoparks da UNESCO fosse bem-sucedida. O seu trabalho valeu-lhe a atribuição, pela Câmara Municipal de Arouca, da Medalha de Mérito Municipal, Grau Ouro, “pelos esforços intensos e profícuos no estudo, preservação e divulgação dos achados fósseis (trilobites) da louseira de Canelas” De facto, a Manuel Valério, a quem é justamente atribuída a paternidade do Arouca Geopark, nunca as dedicatórias e lembranças serão excessivas tendo em conta que foi ele que marcou Arouca no mapa mundi da Ciência.
A Manuel Valério se deve também a certificação das Trilobites Gigantes do Ordovícico Médio da pedreira de Canelas como um dos primeiros cem geossítios com elevada relevância mundial, pela União Internacional das Ciências Geológicas (IUGS), reconhecimento tornado público em cerimónia oficial, organizada pelo Geoparque da Costa Basca Geoparque Mundial da UNESCO, em Zumaia, Espanha, no passado dia 27 de outubro.
Como facilmente se compreende, novembro, para mim, é o mês da Cultura Científica, de Manuel Valério, das maiores trilobites do mundo, em Canelas, do Museu da Pedreira dos Valérios, do Arouca Geopark, da Geologia e da História da Terra desde há 465 milhões de anos, numa viagem ao passado e aos primeiros seres vivos a habitar os mares entretanto transformados em montanhas.
Por tudo isto, é justo e merecido que a 10 de novembro se relembre, se reconheça e se dediquem palavras a Manuel Valério. Mesmo correndo o risco de me falhar o talento e a pena, escrevo este artigo em sua memória e homenagem.
Texto: Ana Isabel Castro
Fonte: Discurso Direto – https://discurso-directo.com/2022/11/04/manuel-valerio-in-memoriam/
Ano: 2022